O Estatuto do Aluno de 2010 refere que as provas de recuperação são substituídas por medidas de Diferenciação Pedagógica.
Cabe-nos agora tentar esclarecer o que é a Diferenciação Pedagógica.
-Entendemos por diferenciação “o conjunto de medidas didácticas que visam adaptar o processo de ensino aprendizagem às diferenças importantes inter e intra-individuais dos alunos, a fim de permitir a cada aluno atingir o seu máximo na realização dos objectivos didácticos” (De Corte (1990). Les Fondements de l’Action Didactique. Bruxelas: De Boek, p. 280)
Diferenciar é correr riscos, sair da norma, sem nenhuma certeza de ter razão ou chegar a resultados visíveis. É sobretudo, acreditar que nenhum esforço se perde a longo prazo e que o caminho se encontra a caminhar.
-A Escola deve gerir a heterogeneidade e promover a igualdade de oportunidades de sucesso dos alunos. Para conseguir diferenciar, é necessário não se ser indiferente às diferenças e estar atento à especificidade da comunidade escolar.
-Diferenciar o ensino é permitir que cada aluno desenvolva as suas capacidades ao seu ritmo, passando pela selecção apropriada de métodos de ensino adequados a cada situação.
-A diferença é, assim, um dos principais factores a ter em conta na acção da Escola e dos professores. Deste modo, a Escola deve criar condições para que os alunos tenham tempos, espaços e recursos materiais que melhor permitam as suas aprendizagens; por outro lado, os professores devem reflectir e procurar soluções capazes de responder às situações de desadaptação, às diferenças de comportamento e aos diversos ritmos de aprendizagem no contexto grupo/turma. Contudo, não devemos esquecer que a adequação do ensino serve para o ampliar e melhorar e não para restringir ou empobrecer a aprendizagem.
-Na sala de aula o professor deve estabelecer, com os alunos, regras de funcionamento que permitam a existência de um clima de trabalho adequado, de modo a desenvolver um conjunto de actividades diferenciadas. Estas podem ser cumpridas individualmente ou em grupo, com auto-correcção, para que todos os alunos estejam ocupados quando se presta atenção especial a alguns. O professor acompanhará a execução das tarefas, auxiliando os alunos a identificar dificuldades ou progressos.
Utilizar uma variedade de estratégias de ensino, adaptando as aulas a alunos individualmente e a pequenos grupos, aumenta o rendimento escolar.
-A diferenciação pedagógica é um processo integrado de diagnóstico e intervenção na aula que combina várias das práticas anteriormente referidas – os programas de tutoria, a aprendizagem de mestria, a aprendizagem cooperativa e o ensino de estratégias de aprendizagem – num sistema de gestão da sala de aula para adaptar o ensino às necessidades individuais e do pequeno grupo. Têm sido demonstrados os efeitos das estratégias de diferenciação pedagógica no rendimento escolar, mas provavelmente os de mais largo alcance ainda são provavelmente subestimados ou menosprezados, dado que incluem metas difíceis de medir ou avaliar, tais como a autonomia do aluno , a motivação intrínseca, as escolhas feitas por professores e alunos e o envolvimento dos pais.
-Implicações para a sala de aula: A diferenciação pedagógica requer fases de implementação executadas por um professor experiente, incluindo a planificação, a atribuição do tempo, a delegação de tarefas em colaboradores e alunos e o controle de qualidade. Ao contrário da maioria das outras práticas, a diferenciação pedagógica é um programa exaustivo para todo o dia escolar e não um método isolado que tenha necessidade de ser integrado numa única matéria ou na actuação isolada de um professor. A sua focalização no aluno de forma individual requer que as limitações para a aprendizagem sejam primeiro diagnosticadas para posteriormente se desenvolver um plano que permita resolvê -las. Um aluno com necessidades educativas especiais ou com dificuldades de aprendizagem torna-se responsabilidade conjunta de uma equipa de professores e especialistas. Uma abordagem educativa deste tipo exige não só que os professores desenvolvam uma ampla gama de estratégias de ensino, mas também que saibam reconhecer quando têm de usar cada uma delas da forma mais adequada ou produtiva, e coordenar os seus esforços com os de outros profissionais dando apoio ao aluno. O tempo e a oportunidade de fazer tudo isto são aspectos fundamentais para implementar a diferenciação pedagógica. Exige-se uma gestão inteligente e profissional de modo a integrar todos os aspectos do programa. Por exemplo, a coordenação curricular significa algo mais que a planificação do ensino de competências e conteúdos disciplinares para vários anos de escolaridade e aplicados a todos os alunos. Em vez disso, compreende a relação do currículo com as capacidades e necessidades de cada aluno. Por conseguinte, o pessoal da escola, Presidente do Conselho Executivo e professores necessitam de uma formação específica distinta da tradicional para poderem implementar e manter planos de diferenciação pedagógica. À medida que os objectivos da escola se tornam mais claros e uniformes, deveria ser cada vez mais possível desenvolver e empregar abordagens sistemáticas tais como a diferenciação pedagógica.
Referências bibliográficas: Walberg e Haertel, 1997; Wang, 1992; Wang, Haertel e Walberg, 1998; Wang, Oates e Whitesthew, 1995; Wang e Zollers, 1990; Waxman e Walberg, 1999
