A presidente do CNE Maria Emília Brederode Santos esteve ontem na Grande Entrevista - Edição Especial da RTP 3
Vou resumir as perguntas e respostas principais de cerca de uma hora de entrevista. Recomendo que vejam na integra a entrevista na RTP Play.
"A Educação pode mudar o Mundo mas contento-me se puder mudar a vida das pessoas"
Maria Emília Brederode Santos
Jornalista Vítor Gonçalves: Este ano é um ano perdido tendo em conta as contigências em que está envolvido?
Presidente do CNE: Penso que não foi um ano perdido tendo em conta que já se realizaram imensas aprendizagens anteriores e mesmo durante este período. Acho que muitas das aprendizagens que deviam estar a ser feitas poderão estar a sê-las mas de outro modo.
Jornalista: Tem memória de um ano lectivo tão atribulado?
Presidente do CNE: Não, acho que este é o ano mais "atribulado", acho que estamos a ter uma grande preocupação para que todos possam ter acesso às aprendizagens.
Jornalista: No Ensino Básico não haverá mais aulas, na sua opinião essa é uma decisão correcta?
Presidente da CNE: Sim, acho que sim, e inquiri os restantes conselheiros do CNE e todos concordam de uma maneira geral com a minha posição, embora todos também concordaram que esta era uma decisão que competia à área da Saúde.
Jornalista: O que os estudos indicam sobre o ensino a distância?
Presidente do CNE: O ideal seria o blended learning, mas isso não foi possível, a solução apresentada utiliza a RTP Memória para transmitir os conteúdos, embora os alunos continuem em contacto com os seus professores. Dificilmente esta solução não agravará o problema da desigualdade, quer por falta de meios materiais e acesso aos conteúdos digitais, quer dos meios humanos, porque nem todos os pais têm a mesma disponibilidade para ajudar os seus filhos. Provavelmente no próximo do ano lectivo os cerca de 10 % dos alunos que abandonam a escolaridade obrigatória e mais alguns poderão necessitar de um apoio suplementar. O contacto individualizado entre professores e alunos é importante mas vamos perder sempre o contacto entre pares, e esta também é uma aprendizagem fundamental.
Jornalista: E em relação ao cancelamento da avaliação através das provas?
Presidente do CNE: O conselho é da opinião que essa foi uma decisão acertadíssima, este ano não se justifica a avaliação externa. Já a passagem administrativa em Portugal não seria bem aceite e é preferível confiar nos professores e no seu bom julgamento.
Jornalista: E em relação à Tele Escola esta situação é comparável de alguma forma?
Presidente do CNE: A TeleEscola tinha uma permissa diferente, era um sistema muito bem organizado e completo, onde os alunos podiam conviver numa escola, enquanto agora os alunos não podem estar juntos. O novo sistema pode ser pouco atractivo pelo que a escola e os professores devem manter algum contacto com os alunos, duas a três vezes por semana, para que a motivação seja diferente.
Jornalista: Faz sentido se houverem condições existirem aulas presenciais no 11.º e 12.º anos?
Presidente do CNE: Eu espero que sim, mas isso é uma decisão da Saúde. Compreendo que alguns pensem que o que é para uns é para todos, mas espero que compreendam que num agrupamento onde só o 11.º ano e 12.º anos funcionam há muito mais "espaço" para que estes funcionem melhor.
Jornalista: Acha que esta situação vai levar os pais a olhar para os Professores de outra maneira?
Presidente do CNE: Acho que vão sair desta situação a valorizar muito mais os professores e vai aumentar a compreensão e colaboração entre os professores e os pais.
Jornalista: Em relação à Educação Inclusiva o que pensa que vai acontecer?
Presidente do CNE: Todos os programas da RTP vão ser traduzidos em Linguagem Gestual e os pais podem pedir às escolas recursos específicos para os seus educandos. O reconhecimento das aprendizagens informais devia ter mais importância e eu dou muita importância a esse tipo de aprendizagens. E eu gostava muito que se avançasse com a designada aprendizagem sobre os Direitos Humanos.
// Fonte RTP 3 Grande Entrevista ep. 18